quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Mitt Romney. O passado mórmon pesa ao republicano que baptizou mortos

(http://www.ionline.pt/mundo/mitt-romney-passado-mormon-pesa-ao-republicano-baptizou-mortos)



Mitt Romney. O passado mórmon pesa ao republicano que baptizou mortos


Por Nelson Pereira


Chamam-lhe “baptismo por procuração”. Os judeus não gostaram e exigem que Romney proíba baptismos de defuntos

Mitt Romney poderá ser o primeiro presidente mórmon dos EUA, mas é precisamente a sua ligação de muitos anos à Igreja sedeada em Salt Lake City, no estado de Utah, que o candidato republicano evita como o Diabo a água benta. Isto porque os mórmones não se livraram ainda da memória de quando defendiam a poligamia e de uma certa imagem considerada ridícula por outras religiões, por, por exemplo, baptizarem os mortos, o chamado “baptismo por procuração”.

Educado numa família mórmon devota, com um trisavô que praticava a poligamia e que chegou a ter 12 mulheres, Romney é filho de pais monogâmicos, mas foge em entrevistas a falar da sua fé, usando até termos próprios de cristãos evangélicos, afirmando “Jesus é o meu salvador”, apropriando-se de uma expressão que nem sequer é comum entre os mórmones e frisando que as suas raízes estão nos valores judaico-cristãos: “Os meus princípios e valores são tão americanos como a maternidade e a tarte de maçã. Acredito na família e em Jesus Cristo, acredito em ajudar o nosso vizinho e a nossa comunidade. Acredito no serviço militar, no patriotismo. Não sou perfeito, mas quero ser uma boa pessoa, segundo os valores judaico-cristãos”, afirmou.

No entanto, Romney, pai de cinco filhos, também já afirmou que acredita “na fé mórmon” e que espera “viver de acordo com ela”. “A minha fé é a dos meus pais e vou ser-lhe leal.”

O esforço de Mitt Romney nem sempre é compensado. Algumas leis que aprovou como governador de Massachusetts são parecidas com as de Obama, incluindo o plano de saúde, que não é bem recebido entre os republicanos. E o passado mórmon persegue-o: um dos episódios mais recentes é o do apelo que lhe foi dirigido por Elie Wiesel, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, distinguido em 1986 com o Prémio Nobel da Paz. Wiesel não gostou de ver os nomes de membros da sua família numa lista mórmon preparada para baptismos por procuração. Com outros líderes judeus, tem insistido, desde meados da década de 90, junto dos responsáveis da Igreja Mórmon em Salt Lake City, que sejam proibidos os baptismos de judeus por procuração. Agora que o mórmon Romney corre à Casa Branca, Wiesel não perdeu tempo e exigiu ao candidato republicano que use a sua influência na Igreja Mórmon para proibir definitivamente os seus membros de baptizar postumamente judeus, em particular vítimas do Holocausto, até porque o próprio Romney já admitiu ter baptizado defuntos.

O protesto de Wiesel deu origem a um comunicado oficial da Igreja Mórmon que refere que os nomes da família Wiesel figuravam unicamente na base genealógica e nunca seriam submetidos aos trâmites do baptismo. E acrescenta que é política da Igreja Mórmon proibir o baptismo de vítimas do Holocausto.Nesta igreja, o baptismo é administrado por imersão. Vestido com uma túnica branca, o neófito, a pessoa que vai receber o baptismo, entra numa pia baptismal com 1,5 m de água e um membro da igreja com funções sacerdotais recita uma oração. A Igreja Mórmon considera que os seus membros são responsáveis pelos seus antepassados falecidos que não tiveram oportunidade de ter o baptismo na Terra: “Todas as pessoas precisam de receber o baptismo que Jesus Cristo recebeu”, disse ao i Dinis Adriano, responsável da igreja em Portugal. “A igreja pede que os seus membros façam pesquisa genealógica dos seus antepassados, para os identificar e receber o baptismo mórmon em nome deles.” Neste caso, o membro da igreja representa, na pia baptismal, o seu antepassado.A questão tem levantado polémicas e nem todas as confissões religiosas aceitam bem esta incursão dos mórmones A doutrina católica, por exemplo, só admite um baptismo, mas Dinis Adriano explica que, sempre que uma entidade ou comunidade religiosa pede à Igreja Mórmon que os seus fiéis defuntos não sejam baptizados por procuração, o pedido é reconhecido: “Até hoje, o Vaticano não fez nenhum pedido destes. Se fizesse, seria respeitado”, frisa.

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