(http://aventar.eu/2012/02/18/contra-o-acordo-ortografico-implicacoes-pedagogicas/)
Contra o Acordo Ortográfico: implicações pedagógicas
António Fernando Nabais
A dada altura, os autores do Acordo revelaram uma preocupação com os problemas de aprendizagem dos alunos, explicando que a supressão das consoantes mudas vai tornar tudo mais fácil. A fonética é fonte de muitos erros e a escrita das consoantes mudas fazia parte do rol.
Por esta ordem de ideias, seria importante repensar outras questões ortográficas, como, por exemplo, os vários valores fonéticos de ‘o’ (é vulgar as crianças perguntarem, no Primeiro Ciclo, se pato se escreve com u), de ‘i’ (o que dá origem a erros frequentes, como Medecina) ou de ‘x’ (letra que corresponde a cinco sons diferentes). Fica, ainda, por explicar por que razão tantas gerações de portugueses conseguiram superar essas e outras dificuldades levantadas pela ortografia portuguesa.
Facilitar a aprendizagem da ortografia não pode ser argumento para mudar essa mesma ortografia. Os critérios que presidem a qualquer mudança deverão ser rigorosos e consistentes. Do ponto de vista pedagógico ou simplesmente cívico, aduzir um argumento em favor da simplificação é insultar a inteligência de professores e alunos. Para além disso, será, na verdade, mais fácil para todos lidar com um sistema ortográfico coerente.
As consequências deste acordo para a pedagogia serão, aliás, desastrosas, como seria desastroso para o ensino de qualquer área científica incluir erros científicos.
Para além disso, no caso do AO90, é fácil adivinhar que as grafias facultativas e a vulgarização da ideia que se deve aproximar a escrita da fonética serão, no máximo, duas mais que prováveis fontes de erros ortográficos, sabendo-se que uma das causas do erro ortográfico está, exactamente, na tendência para se escrever tal como se fala. No mínimo, haverá tendência para a diluição de um sistema, ou seja, para a antecâmara de um caos, o contrário do que deve ser, afinal, um conjunto de regras ortográficas.
No que respeita, ainda, à possibilidade de duplas grafias, dependendo da pronúncia de quem escreve, pergunta-se como poderá um professor corrigir um texto sem conhecer ou sem se lembrar da pronúncia de um aluno, situação ainda mais caricata no caso da classificação de exames nacionais, em que é imposto o anonimato.
Em suma, o facilitismo como critério e o esboroamento da coerência ortográfica originados pelo AO90 terão reflexos perniciosos sobre o ensino da Língua, já tão massacrado por décadas de experimentalismo e de constantes alterações.
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