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Mais sobre o Acordo Ortográfico: em Angola, Macau e Portugal
Bertina Lopes por Paola Rolletta
Poderia ser engraçado mas é apenas sintomático da pobreza intelectual que reina na esquerda geracional portuguesa. Há muita gente que pensa que concordar com o Acordo Ortográfico é sinónimo de ser “de esquerda”, naquele velho sentido de progressista, multiculturalista ou interculturalista, moderna, “do mundo” – nesses cafés e bares de hoje em dia que é o Facebook farto-me de ver gente, até linguistas meus conhecidos, todos convictos disso. A idade não lhes tem feito bem. Nada mesmo.
Um dos exemplos desta pobreza intelectual é Rui Tavares, antigo deputado do Bloco de squerda muito provavelmente futuro deputado socialista. Tavares é um caso particular na política portuguesa, porventura o deputado politicamente mais repugnante da história da III República (ou talvez meu exagero, Daniel Campelo teve piores efeitos …) com o seu populismo anti-parlamentar de distribuição de parcela do ordenado – a esquerda franciscana e anti-parlamentar adora esse vil eco do anti-política anti-democrático mais básico, da invectiva contra os “eles” políticos que muito ganham. Depois é um aldrabão, historiador deputado assina manifestos internacionais anunciando que em Portugal habita o “primeiro povo que abandonou a pena de morte” – a esquerda adora este sucedâneo dos crentes no milagre de Ourique. Com estas tralhas (e o seu obamismo) Tavares tem futuro, e entretanto vai recebendo para escrever (porventura também distribui esse dinheiro) inanidades no “Público”. Agora publicou esta sobre o Acordo Ortográfico – não há muito mais publicado na imprensa portuguesa defendendo a tralha acordista o que demonstra bem do sentir generalizado face a essa “pesada herança”. Mais do que traço do seu autor é interessante ver que os defensores do acordo se abrigam no sarcasmo, pobre coito para algo que teve o seu tempo e que o foi perdendo.
“A voz das consoantes sem voz”
Salvé, Vasco Graça Moura, insigne auctor que desafiaste o dictame do governo e reintroduziste a escripta antiga no teu Feudo Cultural de Belém! Povo português, imitai o exemplo deste Aristides Sousa Mendes das consoantes mudas, como lhe chamou o escriptor e traductor Jorge Palinhos. Salvai as sanctas letrinhas ameaçadas pela sanha accordatária.
Mas ficai alerta, portugueses! As consoantes mudas são muitas mais do que julgais! O “c” de actual e o “p” de óptimo são apenas os últimos sobreviventes de um extermínio secular que lhes moveram os medonhos modernizadores da escripta. Há que salvar agora estas pobres victimas, até à septima geração.
Acolhei-as pois a todas, portugueses, recolhei-as agora em vossos escriptos como a inocentes ameaçados por Herodes. Se há uma consoante muda a salvar em factura, há outra em sanctidade, e esta ainda mais sancta do que aquela. O Espírito Sancto tem uma. Maria Magdalena tem outra. E Jesus Cristo? Ora! O fructo do vosso ventre, Maria, já tinha consoante muda mesmo antes de nascer. Não sabíeis? Assim Ele se conformou, e nós nos inconformaremos.
Há quem diga que o accordo ortográfico é um tractado internacional que foi já transcripto para as nossas directivas internas. Dizem que o assumpto morreu.
Balelas! Nada nem ninguém nos obrigará a cumprir obrigações internacionais. Vasco Graça Moura mostra o caminho, e eu — peccador que fui — vejo agora a luz. Depois da summa missão de salvar as consoantes mudas que resistem, e ressusciptar as que foram suppliciadas no passado, há que supplementar este grande desígnio com outras acções.
O conductor da ambulância que leva doentes oncológicos a serem tractados, pode desobedecer ao corte de subsídios de transporte fazendo o serviço gratuitamente O quê, a austeridade, a troika? Balelas! O memorando não passa de um simples accordo internacional que o governo quer implementar. Se Graça Moura faz lei, de graça poderão também entrar os passageiros nos transportes públicos. E se o seu chefe for um republicano e patriota daqueles que não se contenta com andar com a bandeira num pin da lapela? Pois decrete que o fim dos feriados não vale lá na repartição. E o paginador do Diário da República pode rasurar as nomeações partidárias e alguns zeros dos salários de administrador, para dar espaço às consoantes mudas. O governo entenderá.
Néscio António Mega Ferreira que, apesar da sua gestão impeccável, foi demitido. Nada lhe succederia se, em vez de padecer de “falta de sintonia política”, tivesse antes violado um accordo internacional que o governo decidira fazer entrar em vigor meras semanas antes.
Insensato Pedro Rosa Mendes, que foi censurado por contrariar o governo de Angola. Se contrariasse a CPLP inteira, ainda tinha crónica, e applauso da imprensa!
Longe vai Diogo Infante, demitido por não ter dinheiro para fazer teatro no Teatro Nacional. Mas João Motta, que o substituiu, pode agora imitar a Nova Estrela de Belém. Mande as restricções às malvas, gaste o que tiver a gastar, desde que mande os actores pronunciar as consoantes que agora já não são mudas mas mártires, e que nunca mais se calarão, e que orgulhosamente transformaremos em oclusivas, fricativas ou até explosivas, se nos der na bolha, numa aKção aFFirmativa e peremPtória!
Está assim lançado um movimento que fará os gregos corar de vergonha e os alemães tremerem das pernas. Vamos dar voz às consoantes sem voz! E depois, quem sabe, aos portugueses sem voz, sem trabalho e sem futuro.
Alguns textos noutro sentido têm sido produzidos. No blog ILC – Contra o Acordo Ortográfico vão sendo preciosamente recolectados. Nesse eixo há argumentos com os quais concordo outros nem tanto. Mas há uma diferença fundamental diante dos acordistas, neles se encontra uma tentativa de entender ou perspectivar os efeitos que o acordo terá na praxis da língua. Muito para além da arrogância altaneira e sarcástica que grassa nos “acordistas”.
Um bom exemplo de reflexão é o texto de Manuel Villaverde Cabral, publicado no Público, que responde directamente à atoarda de Tavares e que reproduzo do ILC – Contra o Acordo Ortográfico
Consoantes Mudas ou Colunistas Surdos?
O colunista Rui Tavares decidiu adoptar, na sua crónica de 6 de Fevereiro, um tom pretensamente jocoso para criticar a decisão do novo presidente do CCB, Vasco Graça Moura, de não aplicar o chamado “acordo ortográfico” imposto aos portugueses, apesar da forte mobilização que se registou no país contra ele e do facto de dois dos maiores países de língua ofi cial portuguesa, Angola e Moçambique, não terem ratificado o respectivo tratado. Fez mal. Quis ser engraçado, mas não teve piada.
O assunto é demasiado sério e não se resolve com ofensas avulsas contra uma pessoa que há mais de uma década se dedicou a rebater os escassos argumentos esgrimidos por alguns raros dicionaristas agindo por conta de interesses políticos mal compreendidos. Tavares apresenta-se como arauto do alinhamento da ortografi a do Português europeu pela do Português do Brasil, mas não adianta um único argumento a favor do “acordo”.
Mistura alhos com bugalhos e agita todos os episódios da crónica política recente para “gozar” com as justificadas dúvidas de Graça Moura e dezenas de milhares de outros portugueses (e alguns brasileiros) que conseguiram bloquear a primeira tentativa de nos impingir o dito “acordo”. Porém, toda a sua jocosa pirotecnia não acrescenta um átomo às débeis falácias dos professores Houaiss e Casteleiro, quando entenderam “fazer política com a língua” em vez de “fazerem verdadeira política da língua”, como acontece igualmente com Tavares.
Ora, o “acordo” não é mau para um país abstracto chamado Portugal e para os “conservadores” de quem o colunista se pretende rir. Nem sequer é apenas mau para a ortografi a e a fonética do Português europeu; é mau sobretudo para a já de si defi ciente aprendizagem do Português. Só para dar um exemplo, as consoantes mudas” que Tavares pretendeu ridicularizar logo no título da crónica não são tiques de bota-de-elástico. Têm funções fonéticas e etimológicas relevantes que só o esquecimento, para não dizer outra coisa, faz desprezar. Foneticamente, abrem as vogais que se lhe seguem e permitem distinguir, por exemplo, “recessão” de “recepção”, já que a tendência do Português europeu falado é, como se sabe, para o chamado “emudecimento” das próprias vogais não sinalizadas.
Além disso, etimologicamente as ditas consoantes “mudas” servem para identificar étimos comuns, não só dentro do próprio Português, como por exemplo em “Egipto” e “egípcio”, sendo o “p” alegadamente mudo na primeira palavra e pronunciado na segunda; como também para identificar étimos comuns noutras línguas europeias: “acção” e “activo”, por exemplo, pertencem a uma vasta família etimológica presente não só em línguas latinas como o Francês (“action”, “actif”) mas também no Inglês (“action”, “active”). Por outras palavras, a etimologia e a sua representação gráfica ajudam-nos a saber de onde vimos, se é que a história conta alguma coisa para quem se assina como historiador.
A cedência à ortografia brasileira talvez faça vender alguns dicionários mas será altamente prejudicial para a aprendizagem da língua pelas futuras gerações de Portugueses da Europa, que já não precisam de ser desajudados. As profundas alterações introduzidas pelo presente “acordo” na ortografi a portuguesa não são equivalentes à substituição do “ph” de “pharmácia” por “f ”, pois esta alteração não afectou a fonética da palavra, como a supressão do “c” mudo afectará a pronúncia dos compostos do étimo “afecto” se este “acordo” for por diante. Ignora Rui Tavares o que aconteceu ao fonema “güe” na palavra “bilingüe” quando o trema foi suprimido em Portugal (o Brasil não nos acompanhou e fez bem)?
O colunista devia saber que é muito feio tentar desvalorizar os argumentos alheios com piadas de mau gosto. Não foi à toa que a grande maioria dos linguistas portugueses e muitos brasileiros não cedeu a mal compreendidas motivações políticas na defesa da ortografia, da fonética e da etimologia do Português em que nos temos entendido, até agora, neste pequeno rectângulo do Sudoeste europeu. Tanto mais que, como é bem sabido, o Português falado e escrito no Brasil não vai parar a sua fortíssima dinâmica própria lá porque a classe política portuguesa assinou um “acordo” artificial que só prejudica a aprendizagem e o correcto domínio do Português de cá!
Manuel Villaverde Cabral
Muito recentemente li dois curiosos textos sobre o assunto. Curiosos pela sua origem, um macaense e outro angolano. Ainda que não lhes conheça o contexto autoral deixam a entender que a polémica em Portugal (onde a defesa do Acordo é bastante deficitária e em perda, veja-se o abandono da sua defesa pelo próximo secretário-geral do PS Francisco Assis) está a ter efeitos benéficos noutros locais onde o português é língua oficial. E demonstram, no caso do texto de Macau de modo até doloroso, como o próprio Estado português está dissociado deste acordo, na prática uma mera e cansativa sobrevivência de tempos que já passaram.
Aqui os transcrevo. O editorial do “Jornal de Angola” de 8 de Fevereiro de 2012, ao qual cheguei via Delito de Opinião:
Património em risco
“Os ministros da CPLP estiveram reunidos em Lisboa, na nova sede da organização, e em cima da mesa esteve de novo a questão do Acordo Ortográfico que Angola e Moçambique ainda não ratificaram. Peritos dos Estados membros vão continuar a discussão do tema na próxima reunião de Luanda. A Língua Portuguesa é património de todos os povos que a falam e neste ponto estamos todos de acordo. É pertença de angolanos, portugueses, macaenses, goeses ou brasileiros. E nenhum país tem mais direitos ou prerrogativas só porque possui mais falantes ou uma indústria editorial mais pujante.
Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a Língua Portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil, de Portugal ou de Angola. O importante é que todos respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige. Há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam, ou às “leis do mercado”. Os afectos não são transaccionáveis. E a língua que veicula esses afectos, muito menos. Provavelmente foi por ter esta consciência que Fernando Pessoa confessou que a sua pátria era a Língua Portuguesa.
Pedro Paixão Franco, José de Fontes Pereira, Silvério Ferreira e outros intelectuais angolenses da última metade do Século XIX também juraram amor eterno à Língua Portuguesa e trataram-na em conformidade com esse sentimento nos seus textos. Os intelectuais que se seguiram, sobretudo os que lançaram o grito “Vamos Descobrir Angola”, deram-lhe uma roupagem belíssima, um ritmo singular, uma dimensão única. Eles promoveram a cultura angolana como ninguém. E o veículo utilizado foi o português. Queremos continuar esse percurso e desejamos que os outros falantes da Língua Portuguesa respeitem as nossas especificidades. Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências, introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas Línguas Nacionais. Sabemos que somos falantes de uma língua que tem o Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiu a via erudita e a via popular. Do “português tabeliónico” aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas. Intelectuais de todas as épocas cuidaram dela com o mesmo desvelo que se tratam as preciosidades.
Queremos a Língua Portuguesa que brota da gramática e da sua matriz latina. Os jornalistas da Imprensa conhecem melhor do que ninguém esta realidade: quem fala, não pensa na gramática nem quer saber de regras ou de matrizes. Quem fala quer ser compreendido. Por isso, quando fazemos uma entrevista, por razões éticas mas também técnicas, somos obrigados a fazer a conversão, o câmbio, da linguagem coloquial para a linguagem jornalística escrita. É certo que muitos se esquecem deste aspecto, mas fazem mal. Numa entrevista até é preciso levar aos destinatários particularidades da linguagem gestual do entrevistado.
Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não tivesse acentos ou consoantes mudas. O nosso trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula. Nestas coisas não pode haver facilidades e muito menos negócios. E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português.
Neste aspecto, como em tudo na vida, os que sabem mais têm o dever sagrado de passar a sua sabedoria para os que sabem menos. Nunca descer ao seu nível. Porque é batota! Na verdade nunca estarão a esse nível e vão sempre aproveitar-se social e economicamente por saberem mais. O Prémio Nobel da Literatura, Dário Fo, tem um texto fabuloso sobre este tema e que representou com a sua trupe em fábricas, escolas, ruas e praças. O que ele defende é muito simples: o patrão é patrão porque sabe mais palavras do que o operário!
Os falantes da Língua Portuguesa que sabem menos, têm de ser ajudados a saber mais. E quando souberem o suficiente vão escrever correctamente em português. Falar é outra coisa. O português falado em Angola tem características específicas e varia de província para província. Tem uma beleza única e uma riqueza inestimável para os angolanos mas também para todos os falantes. Tal como o português que é falado no Alentejo, em Salvador da Baía ou em Inhambane tem características únicas. Todos devemos preservar essas diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP. A escrita é “contaminada” pela linguagem coloquial, mas as regras gramaticais, não. Se o étimo latino impõe uma grafia, não é aceitável que através de um qualquer acordo ela seja simplesmente ignorada. Nada o justifica. Se queremos que o português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras.”
E o editorial do jornal “Hoje Macau”, assinado por Carlos Morais José, já de 30 de Setembro de 2011, algo ácido mas sem ter perdido actualidade (também via Delito de Opinião):
“Os responsáveis pela implementação do malfadado Acordo Ortográfico não sabem escrever. Pelos menos a nós não escrevem. Oficialmente, este jornal não faz a mínima ideia de que está a ser implementado um novo Acordo Ortográfico em Portugal, cuja ambição é atingir toda a escrita em Português no mundo. Apesar de sermos, juntamente com os outros jornais, os grandes garantes da língua e a utilizemos aqui na China diariamente e para o público, devem entender as sumidades que não nos vale a pena dar cavaco. E ainda bem: fiquem com eles: o Cavaco e o Acordo. Pois é: não me lembro de nos ter sido endereçada uma carta, uma comunicação oficial, um convite, uma mínima consideração, da parte dos tais promotores do documento.
Este facto – a má educação académica – não é novo. O que se passa é que os génios que elaboraram a asneira devem julgar-se protegidos nas suas torres de euros e marfim, demasiado cheios de si para dar importância aos verdadeiros operários da língua, aos que a mantêm viva todos os dias, muitas vezes contra tudo, contra todos e apesar de vocês.
O Acordo Ortográfico e as alterações nas denominações gramaticais devem ter sido causados pelo excesso de divórcios entre essa gente. Nada para fazer, tédio redondo, narcisismo destroçado, logo: vamos lá destruir a nossa língua, quiçá ficar na História (risos alarves).
Por outro lado, as mesmas bestas também, ao que sei, nada comunicaram ao governo de Macau, o que é profundamente estúpido porque uma das línguas oficiais da RAEM é o Português. Claro que os animais não compreendem a importância deste facto. Normal. Mas já conhecem Macau para cá vir conferenciar (leia-se passear) sobre aqueles temas que nem desencantados na cabeça dos tinhosos. Não vou fulanizar porque o que de facto dá vontade é de os saltear em óleo Fula. Não pode um honesto emigrante sair do seu país descansado que aparecem uns energúmenos a modificar-lhe a escrita. E agora a nomenclatura da gramática.
Ora este desprezo a que Macau foi votado é muito bom. Porque significa que continuaremos a escrever em bom português, ao contrário da ridicularia que por aí vai, a maior parte das vezes sem pés para andar e muito pouca cabeça.
Que o Acordo seja aplicado em Portugal. Afinal, o país já está de tal maneira de rastos que, mais disparate menos disparate, não há-de ter relevante importância.
Nós por cá todos bem.”
Com toda esta polémica muito gostaria que também em Moçambique se olhasse este Acordo, aqui ainda não ratificado nem tampouco verdadeiramente analisado, de modo crítico. E que esse olhar crítico fosse não só “linguista”, essa pobre tecnocracia que é das poucas lianas que impede o actual mero rastejar acordista.
Para mim, e olhando para a mediocridade radical que encima este postal, só me ocorre uma citação. Que não é sobre linguística. Mas que poderia ter sido escrita para desenhar a paupérrima “esquerda” chic (e acordista) do meu país. Festiva, mais do que tudo. Também antidemocrática – e talvez por isso tão adversa a incluir neste assunto os efeitos práticos da legislação ortográfica. Uma esquerda inculta e nisso incapaz de ver o mundo, o seu próprio país e de nele perspectivar futuros – abertos, multifacetados. Heterodoxos. Heterográficos. Um lixo histórico, apenas arrogante:
“Envisager ou non les liaisons entre les textes littéraires et l’impérialisme c’est donc en fait prendre parti – soit’étudier le lien pour le critiquer et penser des alternatives, soit ne pas l’étudier afin qu’il se perpétue sans examen et très problablement sans changement” (E. Said, “Culture et Impérialisme, Fayard, 121). Leia-se, porque não?, “acordos ortográficos” onde está “textos literários”.
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