domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sobre o Acordo Ortográfico

(http://acucaramarelo.blogspot.com/2012/02/sobre-o-acordo-ortografico.html)

Sobre o Acordo Ortográfico

Zélia Parreira

Perguntava o meu amigo Daniel Santos se é possível neste momento parar a implementação do Acordo Ortográfico sem prejudicar todas as crianças que já estudam por ele e se é possível fazer reset nas crianças e começar outra vez?

Eis o que penso sobre o assunto:

Estão a tentar fazer reset connosco, adultos... e nós temos muito mais dificuldade de adaptação do que as crianças.

Se o processo se revertesse agora, repito, agora, daqui a 3 meses os alunos que estão a aprender português segundo o novo acordo nem se lembrariam do que lhes estão a ensinar agora, e nadariam como peixe dentro de água no português que sempre conhecemos.

E já alguém parou para pensar nos custos inerentes a esta brincadeira? Eu tenho quase 100 mil volumes na biblioteca, e é uma biblioteca pequena. Tudo isto é agora, obsoleto. Não é antigo, reparem, isso é outra coisa... É obsoleto, ou seja, lixo. Milhões de manuais escolares para o lixo. Milhões de livros de leitura obrigatória no ensino básico e secundário para o lixo. Milhões de livros editados e apoiados pelo Plano Nacional de Leitura nos últimos 5 anos para o lixo. Milhões de clássicos da literatura para o lixo. É isso que esta brincadeira do AO nos custa.

Não está em causa a evolução natural da língua portuguesa. Está em causa o ego demasiado grande de meia dúzia de políticos da treta que quiseram deixar a sua marca. Bela marca, não há dúvida!

Infelizmente, também eu sou obrigada a utilizar esta escrita. Obviamente, faço batota em toda a linha. Escrevo normalmente e depois utilizo o conversor. Infelizmente, também sou obrigada a decifrar o que se escreve nessa espécie de dialecto. Dou por mim a tentar avaliar rapidamente quantos significados ou se existe sequer algum significado para aquele aglomerado de letras que me aparece à frente.

A alegada tentativa de facilitar o entendimento entre utilizadores da língua portuguesa nas suas mais diversas variantes resulta afinal numa comunicação cheia de ruído para os próprios portugueses, enquanto dos outros lados do Atlântico, as comunidades lusófonas assistem indiferentes a toda esta palhaçada.

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