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O Brasileiro, o Português e o AO90
Escrito por F.Marta
Recentemente fizeram-me uma pergunta que me deixou a pensar: tu não gostas de Brasileiro?
Tudo isto por causa de uma troca de impressões sobre o famigerado Acordo Ortográfico, não sendo surpresa o facto de eu defender a lusofonia e ser liminarmente contra esta aberração a que chamam Acordo Ortográfico. Até porque ultimamente tenho tido problemas fonéticos na leitura de oráculos de telejornais e de legendas de variados programas, porque o Sr. Malaca (que francamente não merece a deferência de ser tratado pelo apelido, comme il faut) esqueceu-se do “pequeno pormenor” da acentuação necessária na falta da consoante dita muda que abre a vogal antecedente. Esqueceu-se esta mente brilhante que seria necessário substituir a consoante “muda” por um acento na vogal antecedente, porque nós por cá não abrimos todas as vogais no discurso fonético. Portanto, é realmente um pormenor que é “pormaior”…
Voltemos à questão do eu não gostar de Brasileiro. Antes pelo contrário! Cresci com novelas brasileiras, com a Música Popular Brasileira, com Ney Matogrosso, com a Canção do Malandro, com Maria Bethânia e todas as grandes vozes do Brasil, inclusive com O Rei, Roberto Carlos. A pronúncia brasileira continua a ser deliciosa e grandes nomes deram o merecido destaque a este idioma nascido do Português, como o ilustre Vinicius de Moraes. O Brasileiro é decididamente mais musical do que o Português, qualquer canção cantada com pronúncia do Brasil fica muito mais bonita. Mas não foi por nada disso que passei a falar Brasileiro. Posso brincar usando expressões brasileiras que alegram qualquer amigo, brindando uma amiga que esteja particularmente bonita em dado dia com um efusivo “minina como você está góstósa!”. Mais ainda, o Brasileiro tem um tom muito mais romântico e doce do que o Português, que é uma língua mais fechada, mais cerrada na pronúncia, tornando-se, por isso, mais dura. Mas inexplicavelmente é, ao mesmo tempo, uma língua que permite fazer os mais belos poemas de amor e de dor. Quem consegue ficar indiferente a Florbela Espanca, a Sophya de Mello Breyner, a tantas dezenas de grandes poetas e de grandes prosadores, de ontem, de hoje, de todos os tempos? Temos uma língua riquíssima. Difícil… talvez. Complicada… talvez. Mas eu recuso-me a deixar morrer a língua ao reduzi-la ao nível da analfabetização. Temos de ascender a cultura à língua, e não reduzir a língua à iliteracia. Não é por 30% da população não saber falar ou escrever decentemente que devemos violentar a língua. Devemos, sim!, ensinar os iletrados e levá-los a um nível mais elevado de cultura.
Estamos a reduzir uma língua a uma insignificância. É preciso ter uma mente anormal e pequenina para achar que este Acordo Ortográfico simplifica a língua. Simplifica-a para onde e para quê? Para aqueles que nunca conseguiram passar nas cadeiras de Língua Portuguesa na escola? Para aqueles que chegam às Universidades a dar erros crassos de ortografia e de gramática? Para os jornalistas que não sabem escrever? Para os licenciados que nunca souberam escrever? Não é a língua que está mal! É o ensino da língua e a falta de inteligência e estudo dos alunos. É o facilitismo na educação. Andava na então Quarta Classe e já escrevia e lia melhor do que muitos estudantes que hoje andam nas nossas Faculdades. O meu primeiro poema publiquei-o com treze anos. Sou brilhante? Nada disso! Tive bons professores e fui boa aluna. Nada mais. Cumpri o meu dever na minha profissão: estudante. O que hoje me assusta é pensar que o meu futuro, e o daqueles da minha geração, vai estar nas mãos de jovens que não conseguem escrever um simples texto, que nada tem de erudito, sem dar pelo menos dez erros de ortografia… e que ainda por cima (chama-me a atenção o computador para o facto de esta ser uma locução própria do nível de língua informal… pois, é que o meu programa é de Português verdadeiro e não de um ridículo AO) há umas mentes - tipo Sr. Malaca - que acham que já que eles não sabem falar devemos fazer baixar a língua ao nível deles. Mas já pensaram no giro que seria termos uma língua para cada forma de falar deste pobre e triste país? Desde as regiões aos bairros? Porque se querem ser coerentes e reduzir a língua, então terão de fazer um levantamento eficaz de todos os diferentes linguajares e criar uma língua para o Porto, outra para Lisboa, outra para o Alentejo, ainda outra para o Algarve, e no meio destas também línguas para os bairros e localidades. Com certeza o bairro Fim do Mundo, a Cova da Moura, o 6 de Maio, por exemplo, terão uma forma própria de falar, tal como o agora dizimado bairro do Pinheirinho no Brasil também teria a sua forma de falar.
Baralhando e dando cartas… a diarreia mental que é este Acordo Ortográfico até assusta.
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